Tensão diminui em Lima mas Peru continua conflagrado com pelo menos nove estradas bloqueadas
Manifestantes querem a renúncia do presidente Pedro Castilho por causa do aumento nos preços dos combustíveis
Por Tião Maia, para o Alto Acre
Continua o clima de tensão em Lima, capital do Peru, distante 800 quilômetros da fronteira brasileira do Alto Acre, onde estão os municípios de Epitaciolândia, Brasileia e Assis Brasil, nos quais é grande a presença de cidadãos peruanos. Informações da imprensa local e repassadas ao Brasil pela rede de TV CNN, dão conta de que esta quarta-feira (6) está encerrando com pelo menos nove estradas bloqueadas, resultado da greve dos caminhoneiros, informou a Polícia Nacional em sua conta no Twitter.
As autoridades também disseram que, devido aos distúrbios de terça-feira, há cerca de 18 detidos que vão ser denunciados pela eventual prática de crimes “contra a tranquilidade pública”. O descontentamento social com o estado de emergência, uma medida amplamente impopular no Peru, provocou fortes protestos na capital Lima, levando o presidente Pedro Castillo a revogar o toque de recolher e o estado de emergência na tarde da última terça (5).
“O Peru não está passando por um bom momento, mas temos que resolvê-lo com os poderes do Estado”, disse Castillo ao deixar o Congresso, onde se reuniu com a mesa parlamentar “para articular medidas em benefício dos peruanos”.
Enquanto o presidente se dirigia a jornalistas anunciando o fim de sua medida impopular, uma multidão protestava e tentava chegar ao Congresso, fazendo com que a polícia tivesse que intervir. A Polícia Nacional do Peru também informou a morte de uma pessoa durante os protestos em Ica, região litorânea ao sul do país. “Pedimos aos manifestantes que não gerem mais atos de violência que ameacem o direito à vida, à propriedade pública e privada e ao livre trânsito pelo território nacional”, disseram em um twitte.
Na noite anterior, eles se referiram à morte de um jovem de 18 anos que aparentemente aconteceu no contexto dos protestos em Huánuco. Em comunicado, a polícia informou que um grupo de pessoas transferiu o corpo para o Centro de Saúde do Ambo. A instituição informou que um representante do hospital disse que a morte ocorreu em decorrência de edema cerebral.
Os policiais ordenaram que técnicos especializados iniciassem as investigações em coordenação com um perito forense do Ministério Público para determinar a causa da morte.
O estado de emergência e o polêmico decreto de ordem de “imobilidade” no Peru não caiu bem entre os peruanos, levando a manifestações em Lima. Do Congresso do Peru, pouco depois, o presidente Castillo anunciou a revogação da referida ordem, que, entre outras coisas, incluía o toque de recolher.
“Devo anunciar que a partir de agora vamos anular essa imobilidade que corresponde a pedir a tranquilidade do povo peruano”, disse Castillo em reunião com a diretoria do Congresso.
O ministro do Interior do Peru, Alfonso Chávarry, informou que havia 18 detidos por “roubo e vandalismo” no âmbito dos protestos. Enquanto isso, Castillo pediu calma entre os peruanos e pediu aos que bloqueiam rodovias, em uma greve de caminhoneiros que começou em 28 de março devido ao aumento dos preços dos combustíveis, a não “aproveitar” um direito constitucional de gerar violência.
Segundo o Ministério do Transporte, são mais de 44 pontos interrompidos em diversas rodovias do país e 86 restritos. O Ministério do Interior peruano pediu que os manifestantes protestem sem necessidade de recorrer à violência, “sem perturbar a ordem pública e no estrito respeito pela propriedade pública e privada, mas sobretudo pela integridade e pela vida humana”, segundo um comunicado no Twitter.
Pelo menos 11 pessoas ficaram feridas nas últimas horas durante confrontos entre manifestantes e a polícia em Lima, segundo o Ministério da Saúde, em protestos contra a medida anunciada pelo presidente Castillo na noite de segunda-feira.
O Ministério da Saúde informou que cinco civis e seis policiais ficaram feridos e estavam sendo tratados por seus ferimentos. Mais cedo, o Ministério do Interior informou que 25 policiais da Unidade de Serviços Especiais ficaram feridos durante as manifestações. O ministro Alfonso Chávarry rejeitou a violência nas manifestações e informou que os manifestantes não só agrediram policiais, mas também jornalistas que cobriam os protestos.
Além disso, de acordo com o ministro do Interior, as manifestações “causaram danos às instalações do Ministério Público, do Judiciário e de estabelecimentos comerciais no centro de Lima”.
Esta quarta-feira a normalidade voltou às cidades de Lima e Callao, onde houve dificuldades de mobilidade, a atenção foi cancelada nos pontos de vacinação da Covid e os trabalhadores públicos e privados compareceram ao seu trabalho remotamente.
A Autoridade de Transporte Urbano informou que os serviços de transporte público em Lima e Callao foram restaurados e funcionam normalmente.
Enquanto isso, os centros de vacinação contra a Covid-19 nessas áreas também foram reabertos após fecharem por um dia em 5 de abril. No entanto, as aulas na região metropolitana de Lima não voltaram à presença habitual nesta quarta-feira, por isso continuarão sendo ministradas virtualmente pelo menos na capital peruana, a fim de “salvaguardar a integridade física e a saúde emocional” dos alunos e da comunidade acadêmica em geral, segundo um comunicado da Direção Regional de Educação de Lima (DRELM) no Twitter.