Produtor rural realiza sonho de voltar a andar a cavalo 5 anos após acidente que o deixou paraplégico no Acre
O dia 1 de abril de 2016 ficou gravado na memória de Agnaldo Casoti Borges, de 39 anos. Após sofrer um grave acidente de motocicleta, que atingiu sua medula em duas partes (T3 e T4) e o deixou paraplégico, ele viu a vida mudar completamente.
Na época, o jovem conta que era cheio de vida e ativo e trabalhava como produtor rural na propriedade onde morava com os pais, na zona rural de Acrelândia, interior do Acre. Ele lembra que no dia do acidente pilotava sua moto quando outro motociclista tentou fazer uma ultrapassagem e ele, para desviar, acabou caindo em um bueiro. Agora, Borges conta que está aposentado pelo INSS.
“O acidente foi em uma estrada de terra, um motoqueiro entrou na minha frente e para não bater nele desviei para dentro do mato e cai dentro de um bueiro. Depois do acidente fui transferido para a capital, devido à gravidade, passei dois meses internado no Pronto Socorro de Rio Branco, depois fui transferido para a Fundação Hospitalar e fui operado”, relembra.
Após a cirurgia, Borges diz que para conseguir recuperar os movimentos e voltar a fazer o que mais gostava, que era andar a cavalo, começou uma longa luta pela vida e por sua recuperação. O caminho até chegar aos dias atuais ainda é árduo, pois segue em processo de recuperação, mesmo após seis anos de seu acidente.
Sonho de andar novamente a cavalo foi realizado após cinco anos — Foto: Arquivo pessoal
“Depois da operação, me recuperei e fui para casa e comecei a fazer fisioterapia em uma faculdade da capital. Tive que me mudar para Rio Branco por causa do tratamento, minha mãe veio do interior e passou dois anos cuidando de mim, eu não aguentava fazer nada, passar para a cadeira de rodas, para a cama, ela me ajudada a tomar banho, fazia tudo. Depois fui morar no apartamento de um amigo e ele me ajudou, arrumou para que eu tivesse acesso ao banheiro sozinho”, lembra.
Com a fisioterapia e o tratamento, Borges começou a sentir seu tronco mais fortalecido, a mãe voltou para a zona rural e ele enfrentou uma nova etapa da vida: ficar sozinho e conseguir fazer as atividades do dia a dia. Mas, no meio do caminho, uma irmã veio para a capital para também ajudá-lo.
“Depois do acidente fiquei sem os movimentos das pernas, fiquei sem força nos braços, lembro que as pessoas tinham que dar banho em mim, empurrar a cadeira de rodas que eu também não conseguia, fiquei totalmente quase sem força no corpo todo, não tinha controle de tronco, caía para um lado o para o outro, tinha que ficar amarrado.”
Agnaldo também faz parte de um time de basquete de cadeirantes em Rio Branco — Foto: Arquivo pessoal
Depois, seus movimentos foram melhorando e ele foi liberado pelos médicos para fazer exercícios, além da fisioterapia.
“Comecei a fazer academia, mas, a primeira que eu fui fazer, as pessoas não aceitaram porque não sabiam o meu problema direito e não quiseram arriscar. Então, comecei por um tempo e tive que parar,” diz.
Outra atividade física que o homem fala que aprendeu a amor e que atualmente ele é praticante assíduo é o basquete. Eles faz parte de um time na capital acreana. “Pratico basquete, eu não paro, gosto de desafios, gosto de me sentir vido e de estar sempre ativo no meu dia a dia.”
Irmãos de Agnaldo sobrem ele em cima do cavalo para que ele possa galopar pelos pastos — Foto: Arquivo pessoal
‘Apoio é fundamental’
Borges reconhece que por onde passa tem pessoas cruciais para a sua recuperação. Entre elas os irmãos, que fizeram de tudo para que ele voltasse a realizar o sonho de voltar a cavalgar pelos pastos da fazenda onde morava. Mas, toda essa ajuda seria em vão, se não fosse a força de vontade dele.
“Depois de cinco anos que eu sofri o acidente e fiquei fazendo fisioterapia, academia, melhorei meu controle de troco e consegui andar a cavalo sozinho. Fiquei fazendo fisioterapia, exercícios em casa, minha vontade era poder andar de cavalo sozinho de novo, porque eu andava, mas era com os meus irmãos me puxando, mas eu queria conseguir andar sozinho de novo.”
Borges revela que esse era seu maior sonho, além de recuperar os movimentos e poder voltar a ter uma vida mais independente.
“Passei anos tentando andar a cavalo sozinho, era o que eu mais queria, porque se você sair e chegar lá na fazenda e montar no cavalo com as pessoas te puxando é muito difícil, é ruim, eu queria andar só para poder ir na casa de um colega, conversar um pouco. Agora eu chego lá na zona rural, vou na casa do meu colega, tomo um café e volto. Minha mãe só falta endoidar atrás de mim com medo de eu cair, mas eu vou assim mesmo e sempre volto”, comemora.
Agnaldo com a irmã antes do acidente — Foto: Arquivo pessoal
Mas, ele conta que até conseguir andar sozinho teve alguns imprevistos, pois o cavalo que ele tinha não era tão manso e ele poderia cair, caso se arriscasse. Quem fez com que esse sonho pudesse ser realizado foi um dos irmãos que comprou um cavalo manso para presentear Borges.
“Eu tinha um cavalo, só que esse cavalo era muito alto e eu não tinha como andar nele, meu irmão foi e comprou um cavalo para mim, perto de Plácido de Castro, longe de onde a gente mora no interior. O rapaz foi e vendeu um cavalo para mim, só que mais barato, bem mansinho, aí hoje eu consigo andar. Além de vender o cavalo mais barato, o rapaz ainda foi deixar na casa do meu pai, o nome dele é Luciano, isso também foi uma grande ajuda.”
Agnaldo encontrou um novo amor há três anos e está casado — Foto: Arquivo pessoal
Superação, universidade e um novo amor
As mudanças na vida de Borges não terminam com o sonho de voltar a andar a cavalo. Ele foi aprovado na segunda chamada do Sisu e vai começar a cursar educação física na Universidade Federal do Acre (Ufac) em junho.
“Agora vou fazer faculdade, cursar educação física. Nunca imaginei, sempre morei na zona rural, nunca nem pensei em estudar, a última vez que eu tinha estudado tinha sido em 2005, isso está sendo um milagre na minha vida também”, comemora.
Hoje, Borges é aposentado pelo INSS e há três anos encontrou o amor de sua vida. Encontrei minha alma gêmea depois do acidente, tem três anos que estamos juntos, juntando namoro e casamento, e somos muito felizes.”
Homem que ficou paraplégico após acidente se recupera e faz Cross training
Cross training
Há duas semanas um novo desafio se apresentou, quando ele foi surpreendido por um desconhecido que o abordou na rua.
“Ele chegou, se apresentou e disse que era um profissional de educação física e que queria me convidar para que ele fosse meu treinador e que eu não pagaria nada por isso. Me surpreendi com o convite, mas após ver que era verdade não pensei duas vezes e aceitei.”
O profissional era Sérgio Costa que no dia em que abordou Borges havia ido buscar a filha com a esposa na escola.
“Vi aquele jovem em uma cadeira de rodas naquele sol escaldante e, como gosto de desafios, parei, falei com ele e perguntei se ele queria treinar comigo na minha academia e fazer aulas de cross training. Eu trabalho com superação e fiz o convite. Ele aceitou e há duas semanas começamos os treinos.”
Agnaldo com Sérgio Costa que atualmente está acompanhando nos treinos — Foto: Arquivo pessoal
O profissional fala que, inicialmente, assim como em todos os demais alunos, as aulas iniciaram aos poucos e que com Borges o treino precisa ser acompanhado de perto e com todo cuidado.
“Ele começou fazendo duas vezes semana, até porque ele tem outras atividades. Está sendo muito bacana, ele está se superando, precisa melhorar a mobilidade. Não estamos trabalhando treino de força, até porque trabalhamos com a metodologia para iniciantes, independente de ele ter dificuldades físicas. Mas a gente faz o treino todo adaptado para cada pessoa, no caso dele ainda estamos trabalhando a mobilidade. Depois vamos aumentar para três vezes por semana e depois até mais”, explicou.
Borges encara a vida com otimismo e diz que nunca pensou em desistir de seus sonhos.
“Mesmo após o acidente, eu nunca pensei em desistir, nenhuma vez, sempre pratiquei exercícios, levanto cedinho, umas 5 horas, vou para o portão, fico em pé um pouco segurando no portão, nunca pensei em desistir, o que aconteceu na minha vida foi um milagre,” acredita.
Agnaldo conta que após seu acidente descobriu uma nova forma de viver — Foto: Arquivo pessoal