Menina pede comida para os irmãos em carta e recebe doações de PMs do AC: ‘Não aguento ver minha mãe chorando’

Uma rede de solidariedade surgiu para ajudar a adolescente Wanessa Calil Ferreira, de 13 anos, os seis irmãos e a mãe dela em Rio Branco. A menina escreveu uma carta contando que estava sem alimentos em casa, no bairro Adalberto Sena, e entregou na casa de um advogado da localidade.

O morador não estava em casa quando Wanessa foi lá. Mas, o pedido de ajuda chegou até o sargento da Polícia Militar Renilson de Souza. O militar fez uma postagem contando a situação e publicou a cartinha da adolescente.

Até quarta-feira (23), o sargento conseguiu arrecadar R$ 700 que foram usados para comprar alimentos e entregues à família.

“Não aguento mais ver minha mãe chorando porque a gente não tem comida. Eu fico triste quando minha mãe chega em casa, não traz comida, meu irmão chorando pedindo e ela não tem. Minha mãe saiu para pedir dinheiro pra pagar nosso aluguel. Ela só tem o Bolsa Família, não dá para pagar nem o aluguel, a gente fica com fome e aí ela faz suco e dá para nós ou caldinho de caridade com farinha. Ela fica esperando toda terça-feira ganhar verdura na igreja”, diz parte da carta.

 

A mãe de Wanessa, Glenia dos Santos, de 38 anos, sofre com problemas na coluna e não tem emprego fixo. Ela faz diárias e usa do dinheiro do Bolsa Família para manter a família.

Ao G1, Wanessa falou que fez o que veio à cabeça quando viu a mãe chorando sem ter o que dar para o filhos comerem no domingo. “Fui lá e escrevi a cartinha e deixei na casa do advogado. Ele não estava em casa e o sargento entrou em contato comigo. Achei muito bom, fiquei feliz do pessoal ter ajudado. Não esperava essa repercussão”, contou.

Carta de adolescente viralizou e reuniu uma rede de solidariedade para ajudar a família — Foto: Arquivo pessoal

Carta de adolescente viralizou e reuniu uma rede de solidariedade para ajudar a família — Foto: Arquivo pessoal

Sem trabalho na pandemia

 

Glenia é mãe de sete filhos: a menor de 3 anos, um menino de 5, duas meninas de 7, Wanessa, de 13, e um menino de 14 anos. Com a pandemia, ela diz que não conseguiu mais nenhuma diária e sobrevive de doações para pagar o aluguel.

“Tenho hérnia de discos que estão me fazendo ficar corcunda, tenho diabete e pressão alta. Estou há muito tempo sem trabalhar, minha irmã me ajuda a pagar o aluguel. Vou me virando como posso. Estava arriada, sem conseguir trazer nada para dentro de casa e ela me viu chorando e os irmãos”, lamentou.

A mulher falou que ficou feliz ao ver a iniciativa da filha. Além das doações de alimentos, Glenia ganhou também um fogão, uma geladeira e uma televisão. Foram feitas doações em dinheiro também para a família.

“Comprei um pouco de fraldas para meu filho, já paguei o gás e comprei cuecas para os meninos. Recebi doação de roupas também, mas não veio cuecas e comprei”, comemorou.

Doações foram entregues na quarta para Wanessa e a família  — Foto: Arquivo pessoal

Doações foram entregues na quarta para Wanessa e a família — Foto: Arquivo pessoal

Doações

 

O sargento Renilson de Souza se comoveu ao ler a cartinha escrita por Wanessa. A correspondência chegou até ele após por meio de uma irmã dele. Ela é amiga do advogado procurado pela adolescente.

Com a carta em mãos, Souza fez um pedido de ajuda em um grupo de mensagens de militares e postou nas redes sociais. Logo as mensagens começaram a chegar.

“O rapaz não estava na cidade para ajudar, e falei que a gente iria ajudar. Entrei em contato com ela para saber do que precisava e postei no grupo de policiais militares. Fizemos uma vaquinha e a cota deu R$ 700 para comprar alimentos. Comprei R$ 600 em feira e dei R$ 100 em dinheiro para a garota”, relembrou.

A entrega das doações foi feita na quarta-feira (23). Após a entrega, o PM falou que recebeu mensagens e doações de policiais militares de São Paulo.

“Entraram em contato comigo querendo ajudar. Fizeram uma cota e mandaram uns R$ 300 e já mandei para eles também. A corrente ficou grande, não esperava a repercussão, gente do interior do Acre também entrou em contato comigo querendo ajudar. É assistente social, médico, um monte de gente”, concluiu.