Membro do Comando Vermelho atua dentro de escola de Rio Branco como “apaziguador”
O que até meados de 2015 era só um boato com as autoridades da segurança pública do Acre negando sua existência, as facções criminosas ganharam dezenas de ramificações, cujo domínio ultrapassa as periferias de Rio Branco. As organizações, em todos esses anos, vieram se instalando, tomando silenciosamente os bairros da capital chegando a dividi-los entre si. Pode parecer que não, mas já há relatos de lugares que sofrem influência delas, como por exemplo a escola pública estadual Pedro Martinello, localizada no bairro Montanhês, parte alta da cidade, considerado território de atuação da facção criminosa Comando Vermelho.
Um áudio divulgado através das redes sociais retrata uma conversa entre a diretora da instituição estadual, Katiane Andrade, com mães de alunas e um integrante da facção, que estaria ali supostamente para resolver o conflito entre as partes que já dura três meses.
No áudio, é possível entender que estavam todos reunidos numa sala e as mães acusam a diretora de perseguir alunas por preconceito ou homofobia. A conversa até então era só entre elas, mas depois aparece um terceiro personagem. O homem estaria ali para resolver o conflito e os pais que antes achavam que se tratava de um advogado, perceberam que se tratava de integrante do Comando Vermelho, o que lhes causou intimidação.
“Ele é um aluno. No dia do áudio chegou uma mãe dessas que estamos tendo problemas com os filhos lá tirando foto de todo mundo, então eu chamei pra sala e foram às três alunas também para conversar pra gente se resolver, pra gente não levar para outras questões e nisso o rapaz entra. Na hora que ele entra, eu me tremo de medo, ai eu começo a falar pra ele a situação e fiz de tudo, porque a gente usa áudio e não queria falar que ele era da facção, ai lá ele já tomou a conta lá de tudo e foi tão rápido que as meninas começaram a gritar que era do CV, ai a policia foi chamada, quando a polícia chegou, as meninas estavam acusando que eu tinha feito ameaças, mostrando o áudio, o policial ouviu e me pediu que lhe levasse até o rapaz e eu naquele momento não levei”.
A diretora ainda explica que já registrou diversos Boletins de Ocorrência e chegou a procurar o Ministério Público para tentar por um fim nos problemas com as alunas que a acusam de participar de facção. Ela nega o envolvimento, mas afirma que sabe quem são os líderes e que desde 2016, quando iniciou a gestão, procura conversar.
“A comunidade por falta do poder público, das políticas públicas, eles acreditam mais nessas facções do que no policial e aí se vocês olharem, desde a minha gestão em 2016, eu tento essa forma de ficar conversando e posso dizer assim hoje, acabou…A gente não tem mais ocorrência de roubo na escola, nós não temos índices de violência dentro da escola. Isso é uma conversa que eles tem com a gente. Tem horas que eles chegam pra gente e fala assim: “porque que a senhora não chegou pra gente quando houve o roubo?”. E eu vou dizer que quem resolve é a polícia? Vou lhe falar, nunca a polícia resolveu, de tudo que foi roubado nunca teve apoio da polícia, o apoio que tivemos foi apenas da secretaria de educação”, finalizou a diretora.
A reportagem tentou também procurar a Secretaria de Educação para buscar saber se ela tem conhecimento da atuação das facções em escolas públicas e através da assessoria de comunicação, foi informado que a secretaria não se posiciona sobre esse tipo de assunto.
No final de 2017 foi criado um observatório com foco na proteção e prevenção da violência no ambiente escolar. O Tenente Jácome, um dos coordenadores do observatório, informou que a escola não está desassistida e que estão sendo realizados trabalhos de prevenção como também em outras escolas de periferia.
“Nós temos feito rondas que é a nossa rotina, temos realizado operação escola segura, palestras a fim de conscientizar a comunidade escolar de que não vale a pena se aliar a criminosos, estamos participando reuniões com o pais e outras ações de caráter preventivo e de conscientização. Agora, infelizmente, a Polícia Militar não é onipresente, não pode estar em todo lugar ao mesmo tempo. Não temos efetivo suficiente para isso, mas o que é da nossa parte nós temos feito e não estamos sabendo desta atuação de criminosos na Pedro Martinello, para isso precisamos ao menos ser notificados para que possamos tomar providências”, disse o militar.