Filha perde mãe e pai para a Covid-19 em 2 dias: “um não viveria sem o outro”, diz família
Quase um mês após a morte da mãe e do pai por complicações da Covid-19, ainda é difícil para a enfermeira Janaína Costa falar sobre o ocorrido. “A minha mãe se chamava…”, bastam essas palavras para que a filha desabe em choro. “Não consigo conjugar esse verbo no passado”, lamenta.
A mãe era dona Morcinda Maria Barroso da Costa e tinha 68 anos. No dia 9 de janeiro deste ano, dona Morcinda começou a sentir os primeiros sintomas da doença. No dia seguinte, seu esposo, José Barbosa da Costa, 72 anos, começou também a sentir os sintomas. No dia 13 de janeiro, os dois fizeram exame e foram diagnosticados com a Covid-19.
Mesmo tendo iniciado a medicação no primeiro dia de sintoma, a doença avançou de forma muito rápida e 6 dias depois, dona Morcinda já precisou ser hospitalizada. Seu José foi levado para o hospital no dia seguinte.
Dona Morcinda era portadora de hepatites, tinha sobrepeso e foi fumante por mais de 20 anos, apesar de ter largado o vício há mais de duas décadas. Seu José também estava acima do peso e era hipertenso.
O casal era de Cruzeiro do Sul e em dezembro do ano passado completou nada mais nada menos que 48 anos de matrimônio. A filha, enfermeira, foi mandada para o município um dia depois de mãe ir para a UTI. A viagem era a trabalho e o objetivo era treinar os profissionais da regional do Juruá para aplicarem a vacina contra a Covid-19. A tão esperada vacina que, se tivesse chegado um pouquinho antes, poderia ter salvado a vida de seus pais.
Da relação de quase meio século, o casal teve três filhos, oito netos e uma bisneta, que Morcinda e José não conheceram, já que quando a criança nasceu, os dois já estavam internados na UTI. A Covid-19 também matou uma irmã de Morcinda em Manaus. No hospital, ela não ficou sabendo da morte.
“Os estavam na UTI, mas um não sabia do outro. Mas estavam juntos, internaram quase juntos, foram para UTI quase juntos e morreram quase juntos”, diz Janaína.
Dona Morcinda morreu no dia 25 de janeiro às 13h40. No dia seguinte, por volta das 22 horas, foi a vez de seu José falecer.
“No dia da morte da minha mãe, eu consegui visitá-los na UTI. Fui, falei tudo que tinha pra falar, do tanto que a gente os amava e pedi que eles continuassem lutando pela vida. Deus preferiu levá-los. Não tem sido fácil. Quando a minha mãe morreu, a gente imaginou que meu pai queria seguir com ela. Lógico que a gente não queria, mas sabia que um não conseguiria viver sem o outro”, diz uma filha emocionada.
Assim como Janaína, outras 921 famílias choram a perda de seus entes queridos no Acre desde abril do ano passado, quando houve a primeira morte provocada pela pandemia da Covid-19.