Brasileiros fecham fronteiras com Bolívia sinal de protesto

 

Janine Brasil, G1 AC


Ponte Wilson Ribeiro ficou fechada por manifestantes para que ninguém pudesse ultrapassar a fronteira — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

Ponte Wilson Ribeiro ficou fechada por manifestantes para que ninguém pudesse ultrapassar a fronteira — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

Moradores das cidades acreanas de Brasileia e Epitaciolândia, no interior do Acre, fizeram um protesto neste sábado (10) e fecharam as duas fronteiras do lado brasileiro para impedir a entrada de bolivianos no país. Em Epitaciolândia, a Ponte Internacional ficou fechada pelos manifestantes e em Brasiléia a Ponte Wilson Ribeiro.

O motivo é a prorrogação do decreto do governo boliviano que desde o dia 2 de abril tem fechado as fronteiras como uma espécie de lockdown. O anúncio foi feito no dia 1º de abril, pelo presidente da Bolívia, Luis Arce, pelo Twitter. A medida duraria sete dias, mas o governo boliviano prorrogou o prazo a partir deste sábado (10) e isso irritou os brasileiros que precisam passar para o lado boliviano.

Na sexta-feira (9), as fronteiras chegaram a ficar abertas o dia todo, após o vencimento do decreto e, na manhã deste sábado (10), os brasileiros dizem que foram pegos de surpresa com o novo fechamento.

O objetivo das medidas bolivianas é prevenir a entrada da variante brasileira P.1 no país. O decreto prevê a abertura das fronteiras pela manhã das 7 horas às 8 horas e à tarde das 16 horas às 19 horas. Foram desses horários, ninguém entra e ninguém sai no país boliviano, nem pedestre e nem veículo de nenhum tipo.

Equipes da Polícia Federal, Polícia Militar e do Grupamento Especial de Fronteira (Gefron) acompanham o ato.

O delegado responsável pelo Gefron, Rêmulo Diniz, explicou que os brasileiros que trabalham do lado boliviano se dizem prejudicados, porque no horário de entrar para trabalhar e no horário de sair eles estavam sendo impedidos de transitar e, inclusive, sendo retidos pelas autoridades bolivianas.

Em Epitaciolândia, moradores também fecharam a Ponte Internacional — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

Em Epitaciolândia, moradores também fecharam a Ponte Internacional — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

“Os moradores disseram que tentaram fazer um acordo para que fosse feita uma modificação no decreto, sem sucesso. Só que agora fecharam novamente, com a prorrogação do decreto, sem levar em consideração a necessidade dos brasileiros que trabalham no lado boliviano. Os manifestantes dizem que só levaram em consideração o horário em que bolivianos vêm para o Brasil fazer feira. Porque para os bolivianos entrarem no Brasil, o Brasil não está fazendo qualquer obstáculo nem para entrar e nem para sair”, explicou.

Diniz disse que o que os brasileiros que trabalham no país vizinho querem ter a liberdade de entrar e sair apenas para trabalhar. “Eles falaram que fizeram esse protesto para tentar sensibilizar as autoridades bolivianas. O protesto foi feito durante a tarde no horário em que os bolivianos entram para fazer compras.”

O delegado falou ainda que duas equipes do Gefron foram destacadas para acompanhar a manifestação, que foi pacífica, e que se houver outra eles vão acompanhar novamente para evitar confusão. “O protesto foi pacífico e, nesse momento, não há nenhuma barreira do lado brasileiro, mesmo porque agora está tudo fechado por causa do decreto deles.”

Em Brasileia uma fila de carros se formou por causa do protesto — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

Em Brasileia uma fila de carros se formou por causa do protesto — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

Prejuízo

 

Alguns gestores de cidades acreanas que fazem fronteira com o país vizinho temem prejuízos financeiros, já que os municípios têm forte ligação comercial com o país vizinho.

No dia 1º de abril, quando houve o anúncio do fechamento das fronteiras, o G1 conversou com alguns gestores de cidades do interior do Acre e eles disseram que temiam que a decisão pudesse causar grandes prejuízos financeiros.

O prefeito da cidade de Epitaciolândia, na fronteira com a cidade de Cobija, Sérgio Lopes, disse que o fechamento traz prejuízo para a cidade. “Temos uma ligação muito forte com a Bolívia no que diz respeito a transações comerciais. Hoje, o comércio de Epitaciolândia vende muito para a Bolívia, sempre vendeu, principalmente na área de gêneros alimentícios.”

A assessoria de comunicação da cidade de Brasileia, que também faz fronteira com a cidade boliviana de Cobija, informou que a prefeitura lamentava a decisão e afirmou que a medida iria trazer prejuízos às duas cidades, já que tanto brasileiros como bolivianos cruzam as fronteiras para trabalhar e fazer compras, principalmente no comércio.

O prefeito de Plácido de Castro, cidade acreana que faz fronteira com a Vila Evo Morales, Camilo da Silva, falou que o município tem pelo menos 300 trabalhadores que vão para a Bolívia trabalhar e lamenta a decisão.

“Para nós, acarreta prejuízo por conta de termos vários trabalhadores brasileiros que trabalham no comércio do lado da Bolívia e esse fechamento tira o sustento de muita gente. Nossa cidade é passeio, onde as pessoas passam por ela para ir até a Bolívia comprar e acaba que compra também da gente”, argumentou.

Fronteia pode ser fechada a partir desta sexta-feira (2) — Foto: Alexandre Lima: Arquivo

Fronteia pode ser fechada a partir desta sexta-feira (2) — Foto: Alexandre Lima: Arquivo

Fronteira fechada

 

No ano passado, a fronteira chegou a passar quase seis meses fechada devido à pandemia, as duas pontes que ligam Brasileia e Epitaciolândia à cidade de Cobija, na Bolívia, foram reabertas, de forma gradual, em setembro.

Covid-19 no Acre

 

O Acre confirmou até esse sábado (10) mais cinco mortes pela Covid-19 e outros 378 novos casos de infecção pelo novo coronavírus. Com isso, o total de óbitos subiu para 1.339 e o de infectados chegou a 73.285. Os hospitais atingiram a capacidade máxima no estado e cinco pessoas aguardavam na fila à espera de um leito de UTI.

Dos 106 leitos de UTI nos hospitais da rede SUS disponibilizados no estado, 101 estão ocupados. A taxa de ocupação total atingiu 96%. Os leitos de UTI estão concentrados na capital, com 85 vagas, e Cruzeiro do Sul, com 26. Com o sistema de saúde em colapso, o Acre precisou transferir pacientes para o estado do Amazonas.