Aquino fala de sua relação com o dono do Bazar Chefe, que foi sepultado esta tarde
“Passe no Bazar Chefe. O bom velhinho vai estar sempre na calçada, esperando você”. Era assim que, em todas as manhãs, de segundas às sextas-feiras, o jornalista e radialista Washington Aquino, apresentador do programa “Café Com Notícias”, transmitido pela TV Bandeirantes (Canal 5), em Rio Branco (AC), se referia a um dos patrocinadores de seu programa, o dono do Bazar Chefe, loja de ferragens e utensílios domésticos, situada no centro da Capital, na Avenida Epaminondas Jácome, região do chamado Novo Mercado Velho.
Na manhã desta quarta-feira (24), o radialista teve que modificar o texto do programa. É que “o bom velhinho” já não estava na calçada de sua loja, o que fazia há mais de 40 anos, todos os dias – era um dos poucos comerciantes que trabalhava literalmente de domingo a domingo.
Naquele momento do programa do apresentador, ele já estava sendo velado na Capela São Francisco, na Rua Isaura Parente, para ser sepultado ainda na tarde de hoje.
Tancredo Lima de Souza, o Chefe, dono da Loja Bazar Chefe, que anunciava no programa de Washington Aquino há mais de 25 anos, morrera, aos 69 anos de idade, na noite de terça-feira, no Unacom, unidade de tratamento contra o câncer do hospital da Fundação Hospitalar do Acre (Fudhacre), em Rio Branco. Ele dera entrada no dia anterior, com sinais de fraqueza óssea, com dificuldades para andar.
Há dias fazia tratamento de fisioterapia, após passar um período de tratamento em São Paulo, onde os médicos diagnosticaram os problemas ósseos. Além disso, nos últimos dias, ele sofreu uma queda, num acidente doméstico. O argumento médico em relação aos problemas ósseos foi o de que, pelo tempo em que ele passou em pé na calçada, na frente do Bazar Chefe, como bem ressaltava o radialista Washington Aquino em todas as manhãs, teria lhe causado problemas nos ossos, joelhos e coluna. Por isso, além das sessões de fisioterapia, nos últimos dias ele andava amparado por um andador, equipamento utilizado por pessoas com dificuldades de locomoção.
Ao passar mal, no final de semana, foi ao hospital da Fundação Hospitalar e lá os exames iniciais acusaram câncer no fígado, já em estado de metástase. Na terça-feira, ele não resistira e morrera, por volta das 20 horas.
Washington Aquino diz que, além de patrocinar seus programas de rádio e TV em mais de 25 anos, o Chefe havia se transformado em seu amigo, autêntico confidente. “Ele me dava conselhos e, quando tinha que tomar decisões, às vezes me pedia opinião. Era um amigo, um irmão”, definiu o radialista.Tancredo Lima parte deixando um legado de trabalho. Por sua história, mereceu inclusive uma nota de pesar assinada pelo governador do Estado, Galdson Cameli, que lamentou a morte do empresário, destacando-o como um exemplo de trabalho e de empreendedorismo.
De fato, Tancredo ou Chefe, apelido que ele ganhou ainda na juventude, vem de uma história de muito trabalho, que começou ainda infância, como vendedor de picolé. Depois foi estivador, nos barrancos do Rio Acre. Com o tempo, já com alguma formação, tirou a carteira de habilitação e se tornou um dos primeiros taxistas a atuar na praça de Rio Branco, numa época em que a maior parte dos automóveis da cidade ainda era movida por tração animal, bois e cavalos em carroças.
Do táxi, para o comércio numa pequena banca do então Mercado Velho, na Praça da Bandeira, foi um pulo. Em quatro décadas, a pequena loja se transformou numa espécie de armazém onde havia itens dos mais inimagináveis possíveis, como correia de sandálias vendidas por unidade, borracha para baladeiras, caniços de pescaria, moinho e trituradores manuais de alimentos e outras coisas como penicos, filtros de barro, naftalina e pedra ume, por exemplo.
Chefe era uma espécie de rei do mercado popular. Negócios que agora devem ser tocados pelo casal de filhos do comerciante, Cleide e Cleudo, que já estão no comércio faz algum tempo. Além dos filhos, o empresário deixa dois netos. Tancredo era nascido no seringal Andirá, no município de Porto Acre. Era viúvo.