Aposentada é resgatada de casa alagada com dez cães de estimação no Acre: ‘são minha família’

O resgate da aposentada Ivanilde Dantas do Nascimento, de 65 anos, no bairro Habitasa, um dos atingidos pelas águas do Rio Acre, poderia ser mais um durante esta enchente se não fosse a quantidade de cães que ela tem em casa e se recusou a deixá-los para trás. Dos 14 animais, dez foram retirados junto com a idosa nesse domingo (2) pelos bombeiros e equipes da Prefeitura de Rio Branco.

Ivanilde mora na Travessa do Bombeiro e a água começou a chegar no quintal dela no último dia 31. Para não deixar os animais sozinhos, a aposentada preferiu não sair do local e se mudou com os cães para uma casa menor e mais elevada que tem na propriedade.

E lá ela ficou até esse domingo, quando conseguiu chamar os bombeiros com ajuda de vizinhos e pedir ajuda. “Tenho uma casa alta no fundo, coloquei os cachorros lá e fiquei junto deles. Dentro da minha casa tem muita água. Estava com o telefone descarregado e nem tinha energia para carregar. Um parente levou o celular e carregou na Sobral [bairro], liguei para a amiga e conseguiu falar que ia dormir lá”, relembrou.

Os dez cachorros foram levados para o Parque de Exposições, onde foi montado um grande abrigo para atender os desabrigados e também os animais de estimação dessas pessoas. Quatro cães ficaram na casa porque, segundo ela, brigaram com os demais e não conseguiram ir no barco de resgate.

Nesse domingo (2), aposentada foi retirada de casa com 10 dos 14 cachorros de estimação  — Foto: Reprodução

Nesse domingo (2), aposentada foi retirada de casa com 10 dos 14 cachorros de estimação — Foto: Reprodução

“São minha família. Os que deixei na Expoacre ficaram chorando, não queriam nem ficar. Coração está apertado, mas é para salvar eles dessa alagação porque aqui na nossa rua não tem quase ninguém mais para pedir ajuda”, lamentou.

Os móveis e outros pertences da aposentada estão na casa de uma amiga dela, no bairro São Francisco. Para não ficar longe de casa e nem dos quatro cachorros que ficaram, Ivanilde está alojada na casa de amigos no bairro.

“Estou na casa de amigos, perto do Campo do Barata. Não gosto de me separar deles. Não tinha saído ainda porque não queria deixar eles. Na noite anterior dormi em cima de uma janela porque não tinha onde dormir. Dormi só com os cachorros”, destacou.

Essa é a segunda vez que a água entra na casa da aposentada. A primeira vez foi em 2015, quando o Rio Acre atingiu a marca histórica de 18,40 metros em março daquele ano.

Quatro cachorros ainda foram deixados em casa, no bairro Habitasa — Foto: Reprodução

Quatro cachorros ainda foram deixados em casa, no bairro Habitasa — Foto: Reprodução

Enchente

Segundo dados da Defesa Civil de Rio Branco, mais de 14,7 mil moradores tiveram que deixar suas casas por conta da enchente do Rio Acre e estão em abrigos ou casas de parentes e amigos.

Nesta tarde desta segunda(3), o rio continua apresentando vazante e marca 17,68 metros.

A enchente, que já atinge mais de cerca de 72 mil pessoas, é a maior dos últimos oito anos e já entra nas cinco maiores da história, desde quando o rio começou a ser monitorado, em 1971.

O rio passou da cota de transbordo no último dia 23 de março. Já são 11 dias que está acima da marca de 14 metros.

O levantamento da Defesa Civil aponta que pouco mais de mil famílias estão desabrigadas, com isso, cerca de 3.221 pessoas estão em um dos 36 abrigos públicos montados em Rio Branco. Além disso, 3.488 famílias com, aproximadamente, 11.510 pessoas estão desalojadas por conta da enchente.

Ao todo, 41 bairros da zona urbana de Rio Branco atingidos pela cheia do Rio Acre. Além disso, 27 comunidades rurais estão isoladas, com 7 mil pessoas de mais de 1,7 mil famílias.

Colaborou a jornalista Quésia Melo, da Rede Amazônica Acre.